Há alguns anos, mais de dez certamente, fui passar o feriado de Carnaval em Alegrete. Na verdade, não era bem em Alegrete, era no interior de Alegrete, um distrito chamado Passo Novo. Fui pra lá com uns primos que me garantiram que eu teria um grande Carnaval. E realmente foi, mas isso não importa para este texto. Lá eu conheci o marido de uma prima em terceiro grau. O nome dele era Fabiano, mas atendia pelo excelente apelido “Pixonga”. Pois bem, em um dado momento de trago (sim, passamos quatro dias bebendo sem parar), ele trouxe uma frase sensacional: “A palavra de um homem é um balaço. Se tu diz que vai, vai. Não tem volta”, disse Pixonga.
Demorei um pouco para entender a profundidade desta frase, “a palavra de um homem é um balaço”. Mas ela veio para substituir aquela expressão antiga, que o acordo era garantido “por um fio de bigode”, ou seja, não necessitava de assinatura reconhecida em cartório e afins. A palavra valendo mais do que qualquer coisa.
Recentemente, dei minha palavra a um amigo que me pediu um favor em uma cidade do interior. Na véspera do evento, acabou sendo modificada a data. Como eu havia me programado, não tive a possibilidade de cumprir com a minha palavra. Ou seja, minha palavra que era um balaço, acabou ferindo. Até hoje, este amigo não fala mais comigo.
O mesmo deve valer para o governo brasileiro e a FIFA no que diz respeito à Lei Geral da Copa do Mundo, mais especificamente, o artigo que trata da venda de bebidas. Desde o momento em que o Brasil foi escolhido como sede da Copa, se sabe que um dos patrocinadores da competição é uma famosa marca de cerveja. Portanto, ela deveria ser comercializada nos jogs do torneio em 2014.
Em nenhum momento a FIFA veio ao Palácio do Planalto para implorar ao Brasil que seja a sede da Copa do Mundo. Ao contrário, foi o Brasil que chegou à FIFA e se candidatou a ser sede do Mundial. Para isso, recebeu um caderno de encargos, ou seja, tudo o que deveria ser feito para ganhar o status de “País Sede do Mundial 2014”. O presidente Lula não deu apenas a sua palavra ou um fio de bigode. Ele assinou em nome do país.
Agora, enquanto todas as outras obras estão paradas e muita gente coloca dinheiro no bolso, as autoridades brasileiras discutem se permitirão a venda de cerveja na Copa do Mundo. Que perda de tempo. O Brasil assumiu o compromisso de cumprir com todas as exigências da FIFA. Se fez isso, não há o que discutir. Afinal, a palavra de um homem, neste caso o representante do país, é um balaço. E acho que ninguém quer ver o Brasil como responsável por um balaço errado.