terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Mil poesias

Reparo o vento
E pra onde será que ele vai?
Se me levasse onde você mora,
Certamente eu iria atrás.

Em noites lindas
Eu fico a pensar,
Será que a lua brilha sozinha
Ou você que faz ela brilhar.

Ahhh... se eu pudesse imaginar,
Tudo que você pensa
Ou sempre irá gostar.
Ehhh... se eu pudesse entender,
O que te faz sorrir
Eu sempre ia fazer.

É que eu vim dizer
Mil poesias só pra você.
É que eu vim dizer
Mil poesias só pra você.
E se de alguma gostar
Outras mil eu posso formar.
E se tocar em você
Outras mil eu posso fazer.

(Sander Fróis)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Deixa chover

Sem demora vou-me embora
Mas eu não sei nem pra onde eu vou
Vou perder-me no caminho
É bem melhor do que onde estou
E na bagagem levo nada, não levo nem o cobertor,
Levo somente alegria e muita fé no meu Senhor
Sei vou encontrar muita pedra no caminho,
Uma flor e dez espinhos mas não posso me turvar
Pois o guerreiro de verdade é dentro da diversidade
Persevera na humildade e mostra todo o seu valor
E está revelado num segredo, não escondendo o seu desejo
De viver e ser feliz, mas um dia Deus vai lhe abençoar
Trazendo a sua chuva para o mal lavar

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Corsário

Meu coração tropical está coberto de neve mas
Ferve em seu cofre gelado
E à voz vibra e a mão escreve mar
Bendita lâmina grave que fere a parede e traz
As febres loucas e breves
Que mancham o silêncio e o cais

Roserais, Nova Granada de Espanha
Por você eu teu corsário preso
Vou partir na geleira azul da solidão
E buscar a mão do mar
Me arrastar até o mar procurar o mar

Mesmo que eu mande em garrafas
Mensagens por todo o mar
Meu coração tropical partirá esse gelo e irá
Com as garrafas de náufragos
E as rosas partindo o ar
Nova granada de espanha
E as rosas partindo o ar

(João Bosco/Aldir Blanc)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

É o que me interessa

Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o teu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurre em meu ouvido
Só o que me interessa

(Lenine)

Paciência

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára...

Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...

Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...

O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...

Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

(Lenine/Dudu Falcão)

sábado, 13 de dezembro de 2008

Vinícius de Moraes

Eu agora vou cantar umas musiquinhas para vocês, disse Vinicius às crianças, e começou: Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada... Espera aí, interrompi, vou buscar um gravador. Assim dizendo saí ligeiro. Voltei em seguida, gravadorzinho ligado e ele recomeçou: Lá vem o pato, pato aqui, pato acolá... Cantou todas as canções, intercalando entre elas uma chamada: Esta é para Marianinha!... Esta é para Bruninho!... Esta é para Maria João!... Encantadas, as crianças ouviam as músicas pela primeira vez, pois elas ainda não haviam sido gravadas naquela ocasião. Ao saber que não restara nenhuma gravação delas após a morte de Vinicius, entreguei meu cassete à Gilda Queiroz Matoso, última e amada companheira do poeta até seus derradeiros momentos. Gravação precária, porém a única que restou e é a que se ouve até hoje.
(Zélia Gattai)

Peladas

Já reparei uma coisa: bola de futebol, seja nova, seja velha, é um ser muito compreensivo que dança conforme a música: se está no Maracanã, numa decisão de título, ela rola e quiçá com um ar dramático, mantendo sempre a mesma pose adulta, esteja nos pés de Gérson ou nas mãos de um gandula.
Em compensação, num racha de menino ninguém é mais sapeca: ela corre para cá, corre para lá, quiçá no meio-fio, pára de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho.
Aqui, nessa pelada inocente é que se pode sentir a pureza de uma bola. Afinal, trata-se de uma bola profissional, uma número cinco, cheia de carimbos ilustres: "Copa Rio-Oficial", "FIFA - Especial." Uma bola assim, toda de branco, coberta de condecorações por todos os gomos (gomos hexagonais!) jamais seria barrada em recepção do Itamarati.
No entanto, aí está ela, correndo para cima e para baixo, na maior farra do mundo, disputada, maltratada até, pois, de quando em quando, acertam-lhe um bico, ela sai zarolha, vendo estrelas, coitadinha.

(Armando Nogueira)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Meu eu em você

Eu sou o brilho dos teus olhos ao me olhar
Sou o teu sorriso ao ganhar um beijo meu
Eu sou teu corpo inteiro a se arrepiar
Quando em meus braços você se acolheu

Eu sou o teu segredo mais oculto
Teu desejo mais profundo, o teu querer
Tua fome de prazer sem disfarçar
Sou a fonte de alegria, sou o teu sonhar

Sou teu ego, tua alma
Sou teu céu, o teu inferno a tua calma
Eu sou teu tudo, sou teu nada
Minha pequena, és minha amada
Eu sou o teu mundo, sou teu poder
Sou tua vida, sou meu eu em você

(Victor Chaves)

Poema para todas as mulheres

No teu branco seio eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!
Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza não!
Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
Homem sou belo
Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas.
Ai! teus cabelos recendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta
E nunca, nunca poder te tocar!
Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...
Correi, correi, ó lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia
Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminação das odes, dai-me o cântico dos cânticos
Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!
Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha quero o colo de Nossa Senhora!

(Vinicius de Moraes)

sábado, 6 de dezembro de 2008

Un vestido y un amor

Te vi juntabas margaritas del mantel
Yo se que te trate bastante mal
No se si eras un angel o un rubi o simplemente te vi

Te vi saliste entre la gente a saludar
Los astros se rieron otra vez
La llave de mandala se quebró
O simplemente te vi

Todo lo que vi está demás
Las luces siempre encienden en el alma
Y cuando me pierdo en la ciudad
Vos ya sabes comprender
Que es solo un rato no más
Tendría que llorar
O salir a matar

Te vi, te vi, te vi
Yo no buscaba a nadie y te vi

(Fito Paez)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Depois do começo

Vamos deixar as janelas abertas
E deixar o equilíbrio ir embora
Cair como um saxofone na calçada
Amarrar um fio de cobre no pescoço
Acender o intervalo pelo filtro
Usar um extintor como lençol
Jogar pólo-aquático na cama
Ficar deslizando pelo teto

Da nossa casa cega e medieval
Cantar canções em línguas estranhas
Retalhar as cortinas desarmadas
Com a faca surda que a fé sujou
Desarmar os brinquedos indecentes
E a indecência pura dos retratos no salão
Vamos beber livros e mastigar tapetes
Catar pontas de cigarros nas paredes

Abrir a geladeira e deixar o vento sair
Cuspir um dia qualquer no futuro
De quem já desapareceu
Deus, Deus, somos todos ateus
Vamos cortar os cabelos do príncipe
E entregá-los a um deus plebeu

E depois do começo
O que vier vai começar a ser o fim

(Renato Russo)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Versos Simples

Sabe, já faz tempo,
Que eu queria te falar
Das coisas que trago no peito
Saudade,
Já não sei se é a palavra certa para usar
Ainda lembro do seu jeito

Não te trago ouro,
Porque ele não entra no céu
E nenhuma riqueza deste mundo
Não te trago flores,
Porque elas secam e caem ao chão
Te trago os meus versos simples,
Mas que fiz de coração.

(Sander Fróis)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Respondendo a uma pergunta

Em todas as épocas a poesia foi dada como morta, ela porém se tem mostrado centrífuga e sempiterna, se tem mostrado vitalícia, ressuscita com grande intensidade, parece ser eterna. Com Dante pareceu que terminava. Porém pouco depois Jorge Marinque lançava uma centelha, espécie de sputinik, que prosseguia cintilando nas trevas. E logo Victor Hugo parecia arrasar, não ficava nada para os demais. Então o senhor Charles Baudelaire apresentou-se corretamente trajado de dândi, seguido do jovem Arthur Rimbaud, trajado de vagabundo, e a poesia começou de novo. Depois de Walt Whitman, que esperança!, já ficaram plantadas todas as folhas de relva, não se podia pisar no relvado. Não obstante, veio Maiakovski e a poesia parecia uma casa de máquinas: deram-se assobios, disparos, suspiros, soluços, ruídos de trens e de carros blindados. E assim prossegue a história.
(Pablo Neruda)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Esquerdista

Não há ninguém mais bobo do que um esquerdista sincero. Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer.
(Nelson Rodrigues)

Soneto

Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce e é piedoso;
Quem o contrário diz não seja crido:
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens e inda aos deuses odioso.

Se males faz Amor, em mi se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de amor;
Todos estes seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.

(Luis de Camões)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Poema em linha reta

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

(Fernando Pessoa)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Pouca vogal

pouca vogal
polka tri-legal
meridional
na serra, no vale
oriundi alles blau
samba sem know-how
pouca vogal
muito micuim
tem pinguim no litoral
em pleno carnaval
são imigrantes
com suas consoantes

no táxi que me trouxe até aqui
cantavam dois irmãos
tchau astral estranho deu pra ti
vou pegar o avião

pouca vogal
clássico grenal
swing esquisito
sem favorito
sem nada igual
nem à páu
viva a diferença
chame de schimier a geléia geral
e o escambau
pouca vogal
ó o auê aí

do táxi que me trouxe até aqui
vi o morro dois irmãos
chega de saudade vou sentir
ouvindo o samba do avião

o táxi que me trouxe até aqui
passou por Dois Irmãos
tchau astral estranho já cheguei
botei os pés no chão

(Humberto Gessinger)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O ex-mágico da Taberna Minhota

Um dia dei com os meus cabelos ligeiramente grisalhos, no espelho da Taberna Minhota. A descoberta não me espantou e tampouco me surpreendi ao retirar do bolso o dono do restaurante. Ele sim, perplexo, me perguntou como podia ter feito aquilo.
O que poderia responder, nessa situação, uma pessoa que não encontrava a menor explicação para sua presença no mundo? Disse-lhe que estava cansado. Nascera cansado e entediado.
Sem meditar na resposta, ou fazer outras perguntas, ofereceu-me emprego e passei daquele momento em diante a divertir a freguesia da casa com os meus passes mágicos.
(Murilo Rubião)

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Versos Íntimos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

(Augusto dos Anjos)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Se eu fosse um padre

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
— muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma...
e um belo poema — ainda que de Deus se aparte —
um belo poema sempre leva a Deus!

(Mario Quintana)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Uma mulher chamada guitarra

Divino, delicioso instrumento que se casa tão bem com o amor e tudo o que, nos instantes mais belos da natureza, induz ao maravilhoso abandono! E não é à toa que um dos seus mais antigos ascendentes se chama viola d'amore, como a prenunciar o doce fenômeno de tantos corações diariamente feridos pelo melodioso acento de suas cordas... Até na maneira de ser tocado — contra o peito — lembra a mulher que se aninha nos braços do seu amado e, sem dizer-lhe nada, parece suplicar com beijos e carinhos que ele a tome toda, faça-a vibrar no mais fundo de si mesma, e a ame acima de tudo, pois do contrário ela não poderá ser nunca totalmente sua.

Ponha-se num céu alto uma Lua tranqüila. Pede ela um contrabaixo? Nunca! Um violoncelo? Talvez, mas só se por trás dele houvesse um Casals. Um bandolim? Nem por sombra! Um bandolim, com seus tremolos, lhe perturbaria o luminoso êxtase. E o que pede então (direis) uma Lua tranqüila num céu alto? E eu vos responderei; um violão. Pois dentre os instrumentos musicais criados pela mão do homem, só o violão é capaz de ouvir e de entender a Lua.

(Vinicius de Moraes)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Poemeu

Mas continuo inocente, acho.
Ou burro, bobo, ou borracho.
Pois toda noite eu vejo todo dia
Tudo que é estranho, raro, ou anomalia:
Padres sibilas
Hidras estruturalistas
Ministros gorilas
Avis raras feministas
Políticos de duas cabeças
Unicórnios marxistas
Antropólogas travessas
Mactocerontes psicanalistas
Cisnes pretos arquitetos
Economistas sereias
Democratas por decreto
E beldades feias
Que invadem a minha caverna
E me matam de aflição
Saindo da lanterna
Da televisão.

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Graças, Pai

Graças, Pai, hoje venho te dar e prostrar-me aos Teus pés
Somente para agradecer somente para dar-Te graças
Pois não encontro outras palavras em meu ser
Graças, Pai, sei que Te fiz chorar
Por ser um mal-agradecido, por não haver Te obedecido
Mesmo assim me tens amado, não me tens abandonado,
Permaneces ao meu lado, venho agradecer.
Graças, Pai, por amar-me numa cruz, com amor incomparável
Em Teu Filho Jesus
Graças, Pai, por Teu amor e Tua bondade, por Tua força e amizade
Por ser um Pai leal, sempre leal
Graças, Pai, pelos pequenos e belos detalhes
Por cada coisa que me destes, por cada coisa que me negaste
Mais que isto, graças, Pai, por Ti mesmo e pelo que És
Por Ti mesmo e como És, venho agradecer
Graças, Pai, por amar-me numa cruz, com amor incomparável
Em Teu Filho Jesus
Graças, Pai, por Teu amor e Tua Bondade, por Tua força e amizade
Por ser um Pai leal, sempre leal
Graças, Pai, pelas dores e alegrias, por estar sempre ao meu lado
Por Teu grande amor, meu Senhor
Graças,Pai...
Graças, Pai...
Graças,
Graças,
Graças

(Martin Valverde)

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Certas esperanças

"E para os pequenos gostos pessoais, que me reste sensibilidade bastante para entretê-las. Ai de mim se começo a não achar mais graça nos pequenos gostos pessoais. Que o perfume do sabonete, no banho matinal, seja sempre violeta; que haja um cigarro forte para depois do café; uma camisa limpa para vestir; um terno que pode não ser novo, mas que também não esteja amarrotado. Uma vez ou outra, acredito que não me fará mal um filme da Lollobrigida, nem um uísque com gelo ou — digamos — uma valsa.
Nada de coisas impossíveis para que a vida possa ser mais bem vivida. Apenas uma praia para janeiro, uma fantasia para fevereiro, um conhaque para junho, um livro para agosto e as mesmas vontades para dezembro."
(Stanislaw Ponte Preta)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Everybody Hurts

When your day is long
And the night - the night is yours alone
When you're sure you've had enough of this life
Hang on
Don't let yourself go'cause everybody cries
and everybody hurts, sometimes
Sometimes everything is wrong
Now it's time to sing along
When your day is night alone (hold on, hold on)
If you feel like letting go (hold on)
If you think you've had too much of this life
To hang on

(Michael Stipe)

sábado, 25 de outubro de 2008

Dores do mundo

A tua voz dizendo amor
Foi tão bonito que o tempo até parou
De duas vidas, uma se fez
E eu me senti nascendo outra vez...

E eu vou esquecer de tudo
Das dores do mundo
Não quero saber quem fui, mas sim quem sou
Eu vou esquecer de tudo
Das dores do mundo
Só quero saber do seu, do nosso amor...

(Hyldon)
Esperando meu segundo filho

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Você já viu a chuva ?

Yesterday, and days before,
sun is cold and rain is hard,
I know...Been that way for all my time.
And forever, on it goes
through the circle, fast and slow,
I know...It can't stop, I wonder.

I wanna know
Have you ever seen the rain?
I wanna know
Have you ever seen the rain comin' down on a sunny day?

(John Fogerty)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Beds are burning

The time has come
To say fair's fair
To pay the rent
To pay our share
The time has come
A fact's a fact
It belongs to them
Let's give it back

How can we dance when our earth is turning
How do we sleep while our beds are burning

The time has come to say fairs fair
to pay the rent, now to pay our share

(Midnite Oil)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Accidentaly in love (Shrek 2)

So I said I'm a snowball running
Running down into the spring that's coming all this love
Melting under blue skies
Belting out the sunlight
Shimmering love

Well baby I surrender
To the strawberry ice cream
Never ever end of all this love
Well I didn't mean to do it
But there's no escaping your love

These lines of light may
Mean we're never alone,
Never alone, no, no

Come on, Come on
Move a little closer
Come on, Come on
I want to hear you whisper
Come on, Come on
Settle down inside my love

(Adam Duritz)
Matando a saudade da minha filha Giovana

domingo, 19 de outubro de 2008

Sampa (últimas 12 horas)

E foste um difícil começo
Afasto o que não conheço
E quem vende outro sonho feliz de cidade
Aprende depressa a chamar-te de realidade
Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
Da força da grana que ergue e destrói coisas belas
Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas
Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços
Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

(Caetano Veloso)

sábado, 18 de outubro de 2008

Sampa no walkman

Este sou eu Parado na esquina
A-ver-a-cidade, ouvindo a canção
Deuses da chuva
Demônios da garoa
Garotas propaganda além dos outdoors
FIESP, favelas
Ouro & ferro velho
Surfista ferroviário (o contrário do contrário do contrário do...)
Esta São Paulo
São tantas cidades
Nessas cidades eu vejo a canção

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Quartos de hotel (em Sampa)

Eu conto as horas que passam
Eu conto estrelas no céu
Na solidão das noites sem graça
Nos quartos de hotel
?como se chama essa cidade?
?como se chama atenção?
De uma cidade que dorme
Enquanto a gente, infelizmente, não?

(Humberto Gessinger)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Patience

I've been walking the streets at night
Just tryin' to get it right
It's hard to see with so many around
You know, I don't like being stuck in the crowd
And the streets don't change but, baby, the names
I ain't got time for the game
Cause I need you

(Axl Rose/Izzy Stradlin)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Bete Balanço

O teu futuro é duvidoso
Eu vejo grana, eu vejo dor
No paraíso perigoso
Que a palma da tua mão mostrou
Quem vem com tudo não cansa
Bete Balanço, meu amor
Me avise quando for a hora

(Cazuza)

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A Via-Láctea

Queria ser como os outros e rir das desgraças da vida
Ou fingir estar sempre bem
Ver a leveza das coisas com humor
Mas não me diga isso
É só hoje, isso passa
Só me deixe aqui quieto, isso passa
Amanhã é outro dia, não é !?

(Renato Russo)

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Live and let die

When you were young and your heart was an open book
You used to say live and let live
But if this ever-changing world in which we live in
Makes you give in and cry
Say live and let die
What does it matter to you?
When you got a job to do
You got to do it well
You got to give the other fellow hell

(Paul McCartney)

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Comfortably Numb

Ok, just a little pin prick
There'll be no more... aaaaaaaaaaah
But you might feel a little sick
Can you stand up ?
I do believe it's working good
That'll keep you going through the show
C'mon, it's time to go.

(Roger Waters/David Gilmour)

Homenagem póstuma a Richard Wrigt

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Bom jornalista

Um bom jornalista é um sujeito que esvazia totalmente a cabeça para o dono do jornal encher nababescamente a barriga.

(Barão de Itararé)

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O nascimento da crônica

No paraíso é provável, é certo que o calor era mediano, e não é prova do contrário o fato de Adão andar nu. Adão andava nu por duas razões, uma capital e outra provincial. A primeira é que não havia alfaiates, não havia sequer casimiras; a segunda é que, ainda havendo-os, Adão andava baldo ao naipe. Digo que esta razão é provincial, porque as nossas províncias estão nas circunstâncias do primeiro homem.
Quando a fatal curiosidade de Eva fez-lhes perder o paraíso, cessou, com essa degradação, a vantagem de uma temperatura igual e agradável. Nasceu o calor e o inverno; vieram as neves, os tufões, as secas, todo o cortejo de males, distribuídos pelos doze meses do ano.
(Machado de Assis)
Em comemoração ao centenário de morte do escritor, ocorrida em 29 de setembro de 1908.

sábado, 6 de setembro de 2008

Delírio dos mortais (calor no Rio)

Rio
Podem dizer o que quiser, mas o xodó do povo é o Rio
Casa do samba, do amor, do Redentor
Louvado seja o Rio.

Rio
Pra delírio dos mortais
pedras monumentais combinaram aqui
Um encontro colossal
e contorno de beleza igual
nunca vi.

(Djavan)

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Samba do avião (chegando no Rio)

Minha alma canta, vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudades
Rio, seu mar, praia sem fim
Rio, você foi feito pra mim.

Cristo Redentor, braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar, seu corpo todo balançar

Rio de sol, de céu, de mar
Dentro de um minuto estaremos no Galeão

(Tom Jobim)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Crime do adjetivo

Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo.
Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de "ilustre", de "insigne", de "formidável", qualquer borra-botas.

(Nelson Rodrigues)

terça-feira, 2 de setembro de 2008

O trágico dilema

Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.

(Mário Quintana)

Pro dia nascer feliz

Todo dia a insônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito
e que a solidão é pretensão de quem fica escondido, fazendo fita.

(Cazuza)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Sempre assim

Quero iniciativa e um pouco de humor
pra peleja da minha vida
Ser feliz se assim for
Tô correndo contra o tempo
e agora não posso parar
Por favor, espere a sua vez
Certamente ela virá
Será que todo dia vai ser sempre assim ?

(Jota Quest)

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Os ombros suportam o mundo

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

(Carlos Drummond de Andrade)

Talentos

Como esse pássaro
Que sobrevoa as vinhas
Como águia ou andorinha
Que precisa só voar
Como essa água
Cai da serra
Corre vales
Vai por todos os lugares
Como água para o mar
Vem esse canto natural
Se para tanto é necessário
Simplesmente ser eu mesmo pra cantar
Como o ser que busca o sol numa campina
Meu sorriso se ilumina
Se Deus toca o Coração
E se lembrasse
Que é sal e luz do mundo
Pensaria num segundo:
Nunca devo me ocultar
De que adianta
Ser a ave voadora
Ter o canto do canário
E para sempre me calar
Então seria como ser a luz da vela
Iluminando uma capela
E uma sombra lhe abafar
Ser sal da terra
E o sabor que em si encerra
Se perder pelo espaço
E pelo espaço não teria serventia
Seja luz!
Para brilhar pelo mundo
Pra dar sabor para as coisas
Se o talento vem de Deus
Nunca há de se ocultar
(Rodrigo Grecco)