quinta-feira, 12 de março de 2009

A máquina de escrever

Mãe, se eu morrer de um repentino mal, vende os meus bens, a bens dos meus credores...
A fantasia de festivas cores que usei, no derradeiro carnaval...
Vende esse radio que ganhei de prêmio por um concurso num jornal do povo...
E aquele terno novo ou quase novo, com poucas manchas de café boêmio...
Vende também meus óculos antigos que me davam ares inocentes, não precisarei de suas lentes pra enxergar os corações amigos...
Sem ruído é mais próvavel que eu alcance o céu, vou penetrar e então provar seu mel.
No paraíso só preciso de um olhar. Sem teu sorriso, outro sorriso pra me enganar!
Mas poupa minha amiga de horas mortas, com teclas bambas, minha máquina de peças tortas!
Vende todas as grandes pequenezas
Que eram meu intimo tesouro...
Mas não, ainda que ofereçam ouro,
Não venda o meu filtro de tristezas!

(Roberto Frejat)

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